Como é de conhecimento geral, a gastronomia é sempre um fator importante pra conhecer um país e como a sociedade funciona. Aqui não é exceção. Vale mencionar que, como tudo mais na vida no Irã, as esferas públicas e privadas são bem demarcadas e os costumes são bem diferentes em cada uma delas.
Como cheguei há pouco e a maioria dos meus amigos são estrangeiros também, não tenha grande experiência sobre como funciona um lar iraniano de verdade. Minha experiência gastronômica está meio que restrita a restaurantes.
Nesse campo, o Líder Supremo (para usar uma expressão cara ao regime) é o kebab. Praticamente qualquer birosca serve só isso ou alternativas pouco apetitosas como pizza amanhecida e hamburguer de carne de origem duvidosa (provavelmente o Brasil).
Ao contrário da Grécia e da Turquia, onde a regra é aquele tronco de carne exposto às vicissitudes urbanas, aqui o kebab funciona na base do espetinho, como esse aqui no Restaurante do راد (/rad/), aqui perto da Embaixada:
A carne, via de regra, é de cordeiro, já que boi geralmente é importado e um bom corte é bem caro. Geralmente, o kebab é acompanhado de UMA MONTANHA de arroz, acompanhado de um bolinho de… arroz, configurando assim o CLÁSSICO ویولن سل کباب/celo kebab/, que ocupa um lugar nos corações e mentes iranianos próximo à feijoada no Brasil
Gosto bastante do kebab daqui, porque sou um grande fã de carne de cordeiro, mas admito que às vezes enche cansa um pouco. Em função das sanções e das PECULIARIDADES políticas do país, não tem tantos restaurantes de cozinha estrangeira em Teerã e os que tem, com exceção dos da região (árabes, indianos) são tocados por iranianos. Mais ou menos como em Brasília, onde só tem sushi man nordestino.
Outro capítulo especial são os menus em inglês. Não existe uma convenção para a transliteração do alfabeto arábico pro romano, então é meio salve-se quem puder. Por exemplo, o nome do aiatolá que no Brasil se escreve Khomeini, em espanhol é Jomeini. Assim como o emirado do golfo é escrito ora Catar, ora Qatar.
Enfim, essa é (eu acho) a explicação para as coisas que a gente vê escrito por aqui em inglês, que variam do cômico ao jocoso:
Traduzindo: Tournedos, não tenho idéia, Filé Chateaubriand, e por aí vai
Nem adianta perguntar pro garçom o que vem em cada prato que a única coisa que se entende é o gestual, o que pode gerar situações meio cômicas, como o garçom imitar uma galinha no meio do restô. Ah, claro, tudo isso era kebab, independentemente do nome.
Não posso deixar de mencionar a quase escatológica opção num café de Isfahan:
Apesar da bizarria, as coisas no supermercado são, em geral, bem boas, menos os embutidos, já que, como porco é proibido, especula-se que sejam feitos com carne de afegãos. Mas isso é assunto pra outro post.