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Shiraz e Persépolis pela boca dos gagos

In Uncategorized on 30 de janeiro de 2011 por Ramiro Breitbach Marcado: , , , , , ,

Esse fim de semana tomei a coragem que precisava para embarcar num 727 da Iran Air (sim, o mesmo modelo que caiu há algumas semanas atrás) e ir até Shiraz, capital do Reino da Pérsia durante a dinastia Zand (1750-1781) e a sexta cidade mais populosa do país.  Há cerca de 50 km de Shiraz, ficam as ruínas de Persépolis, sítio cerimonial da dinastia dos Aquemênidas (550-330 AC), à qual pertenceram os monarcas mais famosos do Império Persa, como Dário, Xerxes, Ciro e o barroquizante Artaxerxes. Por essas e por outras, Persépoilis é provavelmente a atração turística mais popular do Irã, que sempre aparece na lista dos “must see”de qualquer guia de viagem.

Shiraz , a cidade em si, não tem nada demais, fora o grande palácio de Karim Khan Zand, que domina parte do centro da cidade. De resto, é uma cidade iraniana tradicional, com bazar, mesquitas, mulheres de chador e carros alegóricos:

Realmente não consegui entender esse carro alegórico aí no meio da rua

Bem, o palácio do Karim Khan, como eu disse, domina o centro da cidade e é um prédio bem bonito e até de algum bom gosto, ao contrário das placas em broken english que adornam o local. Seguem algumas fotos das duas tendências:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Outro ponto tradicional da turistada em Shiraz é o túmulo do poeta Hafez, um shirazi do século XIV cujos versos todos iranianos sabem de cor e em todas as casas tem uma cópia do livro dele Divan (sem relação com a Martha Medeiros). O paralelo mais próximo que eu vejo no ocidente é com Shakespeare, mas a devoção dos iranianos por esse Hafez é algo mais próximo de um santo/estrela de rock do que o tipo de atenção que os poetas costumam receber. Não faltava gente beijando o chão com os versos dele escritos ou se lavando em lágirmas por estar perto do corpo dele. Não fotografei essas manifestaçoes mais exaltadas porque não acho justo, mas boto aí algumas fotos do monumento:

Devido à completa falta do que fazer à noite (a maioria das mesquitas/atraçoes turísticas fecha por volta das 18h), resolvemos nos AVENTURAR num cinema iraniano. Em geral, a programação é composta só de filmes nacionais ou no máximo, algum filme de Hollywood ALTAMENTE CENSURADO. Essa é a equivalente Shirazi da Cinelândia:

 

O filme era um melodrama em farsi sobre uma menina que tinha um casamento arranjado. O que mais me surpreeendeu foi a minha capacidade de ver o filme até o fim, apesar de entender somente as expressões mais básicas, como “oi” e “tchau”. Ainda assim, deu pra compreender as linhas gerais da história.

 

 

 

 

 

 

No dia seguinte, estava marcado ir a Persépolis. Ligamos pruma agência de turismo indicada no guia de viagem como de confiança. Com efeito, o guia chegou pontualmente e falava um bom inglês, porém era incontrolavelmente GAGO, o que evidentemente prejudicou um pouco sua performance. Enfim, não impede que Persépolis seja realmente um lugar deslumbrante, na minha opinião O lugar a ser visitado no Irã.

Segundo o gago guia nos explicou, Persépolis não era propriamente uma capital administrativa, mas sim um lugar para a celebraçao no nowruz, ou ano novo persa, que permanece até hoje no dia 21 de março do nosso calendário. Nessa ocasião, representantes de todos os povos súditos do império (chegaram a ser 33 sob Ciro) traziam um presente de sua terra ao Imperador. Por isso a entrada do lugar é conhecida como o “Portão das Nações”, uma grande sala de espera para ser recebido pelo imperador:Gate of all nations

Persépolis está tuda em ruínas não só porque tem 2500 anos de idade, mas tb porque o Alexandre queimou tudo até a ultima ponta quando passou por ali em 330 AC. Dizem que as tropas deles estavam furiosas pelo saque que os persas fizeram a atenas em 480 AC, então não deixaram pedra sobre pedra.

Este é um símbolo zoroastrista (religião do império antes do islã) que se vê não só nas lojas de souvenirs pra turista, mas tb em muitos carros e camisetas dos iranianos:

Por sinal, eles adoram ressaltar os vínculos do que hoje conhecemos como Irã com o império persa de Ciro, Dario e cia, do que é exemplo a nababesca festa que o xá Mohammed Reza Pahlavi deu pra comemorar 2500 anos da monarquia persa em 1971, em Persépolis e Pasárgada, da qual permanecem vestígios até hoje no lugar. Há quem debata essa vinculação direta, já que entre os aquemênidas e os Pahlavi tiveram quinze dinastias e o país mudou de religião no caminho. Na verdade, os fatos não importam tanto assim, o que importa é que os iranianos se consideram descendentes de um grande império, e não um paizinho de terceira categoria. Talvez por isso eles nunca tenham sido (formalmente) colonizados por ninguém e não estão muito dispostos a seguir ordens das potências ocidentais. O imbróglio do programa nuclear é mais um sintoma dessa construção.